Futebol e política – parte 1

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“O Futebol é a coisa mais importante dentro das coisas menos importantes”- Arrigo Sacchi.

Esta frase do italiano Arrigo Sacchi, um dos maiores treinadores de futebol do mundo, é significativa quando olhamos o esporte pelo prisma do torcedor, este um participante e, ao mesmo tempo, um consumidor do chamado esporte bretão.

Quando chega ao Brasil, pelas mãos e pés de um inglês, a modalidade era exclusiva para as elites, que ao verem a novidade chegando do estrangeiro, se empolgaram a ponto de introduzir a bola redonda manuseada com os pés, em seus clubes prives, em que pobres e negros não tinham acesso.

Mas a novidade era tão boa e contagiante que foi parar nos cortiços, morros e periferias das cidades. Lá, neguinho e branquinho, cafuzo e amarelo chutavam a mesma bola, ora de meia, de papel ou até uma pedra, já que a de couro era cara e rara pelas bandas das comunidades pobres.

Com o tempo, o futebol vai ser praticado do Oiapoque ao Chuí. Não dava mais para evitar que as classes sociais se misturassem na prática do esporte.

No excelente documentário da HBO Brasil, o Negro no Futebol Brasileiro, os primórdios do futebol são narrados, onde brancos ricos tentam se apropriar mas a paixão do brasileiro pela bola faz com que a popularidade invada as classes e, por 90 minutos, o congraçamento evita a luta de classes.

Mas o futebol não é apenas uma paixão. Ele determina a identidade de uma nação através da prática de um esporte.

Jogar futebol se faz em qualquer lugar. Para se jogar, basta um lugar: um campo de areia, no asfalto, no quintal de casa e uma bola, de capotão, plástico ou até de meia ou papel como já citamos aqui. As traves, a gente faz com chinelos, sapatos ou pedras.

Não há sexo ou gênero para se praticar. Embora os machistas de plantão e homofóbicos insistem na tese do “é coisa de homem”.

Futebol é alegria, antes de ser competição. É prazer, antes de ser lucro.

Porém, nos tempos modernos, como tudo o que é popular, é atraente para o mercado financeiro. O esporte que já foi chamado de bretão, e era amador, movimenta milhões, sustenta milhares de pessoas, entre atletas, técnicos e outras funções que vivem e dependem do futebol para viver.

Mas se o lucro atrai, não fica restrito ao mundo dos boleiros, como o técnico da seleção brasileira, Tite, disse esta semana ao justificar que a ele e aos seus jogadores não cabe opinar sobre assuntos como a realização ou não da Copa América no País.

Tite, depois da semana passada, onde mesmo sem deixar muito claro, abriu possibilidades para um enfrentamento com os cartolas e com o governo Bolsonaro, agora rói a corda e volta à lenga lenga de que sua função é treinar o time e dos jogadores ganharem jogos.

O boicote ensaiado ou sugerido pelos jogadores da seleção, poderia abrir um marco histórico nas relações do mundo da bola.

Seria pela primeira vez, em décadas, que um grupo de jogadores, os mais populares do Brasil e bem sucedidos financeiramente, estariam rompendo com a lógica política da cartolagem, que necessita do futebol para enriquecer-se.

Mas parece que a alegria de pobre, – ex-torcedor de arquibancada, pois antes da pandemia, já não ia ao estádio, pois é um absurdo o valor do ingresso – dura pouco, né?

Tite e seus comandados capitularam, frente aos interesses de dirigentes e o governo do miliciano.

Mas este é assunto para a segunda parte deste ensaio.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor, consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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