Por João Geraldo Lopes Gonçalves
As lendas e os mitos
No último dia 10 de dezembro, se comemora o aniversario da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Infelizmente, no Brasil, dá-se importância a datas cujo teor é questionável, como a Proclamação da República e, sem nenhum pudor, coloca no esquecimento esta data.
Os poderes públicos pouco ou nada fizeram em especial aqui em minha cidade. Até entidades de defesa dos direitos humanos parece que ignoraram seus propósitos e objetivos de existência.
Um ato foi convocado para a última terça-feira no País e ou não aconteceu ou fracassou. Não vimos nada nem nas ruas, nem na imprensa. Esta apatia e desinteresse reforçam o discurso da extrema direita que tenta desqualificar a declaração e as defesas dela.
Só para se ter uma ideia, em Limeira foi criado em 2015 o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania. Uma conferência com a participação de 300 pessoas, representantes da sociedade civil, debateram e aprovaram um programa de trabalho e elegeram o primeiro conselho.
Mudou o governo, o atual, simplesmente alegando irregularidades na formação do segundo conselho, pediu a anulação do mesmo e até hoje nada foi regularizado.
E aí em todo canto da cidade e do País, verbalizam-se concepções errôneas sobre os DHs, que se aproximam mais de lendas, mitos (mentiras) e outras bobagens.
Coisas do tipo: direitos Humanos é para defender bandidos. Sim, é, mas também busca garantir direitos de todos, até do homofóbico, racista, machista e outros. Outro papo comum é Humanos Direitos: O humano direito de praticar assédio moral e sexual, por exemplo?
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, Limeira consta, ao lado de Piracicaba e Campinas, como as três cidades da região em que há maior percentual de denúncias de assédio sexual no trabalho, sem falar em outros ambientes.
Outra denúncia que chocou a cidade foi a prática de racismo de uma mulher adulta a uma criança de seis anos. O Conselho Municipal dos Interesses do Cidadão Negro (Comicin) emitiu uma nota de repúdio pedindo providencias das autoridades contra este caso e vários outros que já ocorreram ou podem acontecer.
Uma outra conversa que fere os direitos humanos é o discurso de que, para quem cumpriu os deveres (quais direitos, de ficar calado?) de cidadão, não houve ditadura militar e muito menos o Governo Bolsonaro propôs golpe de estado.
Esta fake se tornou uma cantilena nas mãos de reacionários e pessoas desinformadas sobre a História. O Brasil ainda consta da lista dos maiores países onde os direitos humanos não são respeitados.
Aqui a herança da ditadura ainda prossegue, como torturas em cadeias e presídios. A PM de São Paulo, só para ficar neste exemplo, é que mais mata no Brasil; o autoritarismo nos locais de trabalho com assédio, seja sexual ou moral, persiste e com muita força.
A exploração de mão de obra escrava, inclusive infantil, é um dos horrores deste desrespeito. A fome ainda insiste em quase 20 milhões abaixo da linha da pobreza, e aí outra lenda estúpida de que só passa fome quem não quer trabalhar neste País.
Governos populares e de esquerda tentam com medidas afirmativas mudar nossa posição no ranking dos DHs. Mas muitas destas políticas são paliativas. Penso que é preciso efetuar reformas que nos conduzam a distribuição de renda e justiça social.
E aí encerro o texto de hoje com um pequeno poema de uma sociedade Ideal:
O Nirvana
Eu tenho um sonho
Como nos dizia
Martin Luther
Que um dia
A vida plena
Será para todos
Um mar farto
Do que comer
Beber, se refestelar
Um lugar lindo
Onde não há
Queimadas as plantas
Onde o ar é puro
Santificado de limpo
Onde a pressa
É substituída pela
Calma, o silêncio
Um lugar sem
Famélicos, indigentes.
Onde a terra
É de todos
E para todos.
Onde a Paz
Não seja discurso
E sim visível
Que o amor
Seja infinito
E não importa
Como e com quem
Que a vida não
Seja o trabalho
Mas que a criatividade
Seja o caminho.
O Nirvana é possível?
Quem sabe?
Bom final de semana a Todas, Todos e Todes.
João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.
Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar
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