As pequenas infrações e o caos

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Saí do supermercado próximo de meu trabalho, onde fui comprar pó de café e açúcar para o escritório. Ao localizar meu carro, e ao tentar abri-lo, um outro veiculo quase me atropelou. Aguardei, ainda assustado, o motorista descer do carro e gentilmente, perguntei: ‘Nossa parece que o senhor estava mesmo com muita pressa, poderia ter até matado’. Disse e sorri, um pouco nervoso ainda”.

“Aí o cidadão, branco, de meia idade, iniciou gratuitamente ofensas a mim, negro e idoso, do tipo: ‘ô Preto, não presta atenção por onda anda? Só podia ser velho e desta cor mesmo’”.

“Tentei argumentar, mas o homem gritava ou melhor berrava e se aproximava de meu corpo com punhos fechados. Resolvi terminar a conversa, afirmando: ‘Olha, meu senhor, apenas tive a intenção de lhe relatar o ocorrido, mas além de ser mal educado, o senhor acabou de estacionar em local proibido, pois não és idoso e nem deficiente’”.

“O cidadão fechou mais ainda a cara e, enfurecido, correu até o seu carro. O abriu e tirou do veículo uma arma e veio em minha direção, percebi e vi que não dava para argumentar. Entrei em meu carro e saí em disparada. O tal homem me perseguiu com seu carrão ultimo tipo, até a delegacia mais próxima em que fiz o BO”.

Esta “História” é fictícia, mas baseada em alguns fatos reais.

O caso acima terminou sem consequências mais drásticas como a morte. Há narrações deste tipo que dão conta de vítimas assassinadas por conflitos do chamado dia a dia, como este. Uma corriqueira discussão por alta velocidade e ocupação de vaga de estacionamento quase levou à morte.

Infelizmente, a sociedade brasileira encara determinados “delitos”, como leves e inofensivos, como fumar em locais proibidos, não utilizar cinto de segurança ao dirigir ou mesmo estar dentro do carro, não usar máscaras de proteção ao Covid-19, aglomerar em tempos de pandemia, ocupar assentos no transporte coletivo de idosos, mulheres grávidas e deficientes e outros.

O ano este escriba não se lembra, mas foi durante o mandato do prefeito Paulo Hadich, que tive uma conversa com o então secretário de Segurança Pública de Limeira, Mauricio Miranda de Queiroz. Na época, comemorávamos os números relacionados a roubos e furtos de veículos, que tinham diminuído drasticamente após ações realizadas pela Prefeitura.

Maurício, um delegado de Polícia, disse que os desafios de combater a criminalidade como o tráfico de drogas, os já citados roubos de carros, o crime organizado como um todo, sempre é grande, mas o que mais o preocupava eram os chamados pequenos delitos ou infrações.

O secretário dizia que as pessoas não conseguiam compreender que desrespeitar leis consideradas do cotidiano, do dia a dia e de costumes, caso não houver uma reeducação, se transforma em crimes enormes que incidem diretamente na organização cidadã e democrática da cidade.

Viramos uma terra de ninguém, um caos.

O Dr. Mauricio tinha toda a razão. Não respeitar regras de convivência, como o fato acima contado, é que vira regra e aí é a barbárie e o fim da civilidade.

O mandato do prefeito Paulo aprovou, naquele período, uma importante legislação que pode e deve não só buscar a educação das pessoas, como coibir as chamadas pequenas infrações. O Código de Posturas e Condutas está disponível na íntegra no site da Câmara Municipal de Limeira.

Em tempos de um presidente que prega diariamente o desrespeito aos direitos da pessoa humana, como uso de cinto de segurança, cadeirinha para crianças nos veículos, relaxamento de multas de trânsito e o armamento sistemático e de massas do País, precisamos ficar atentos para alguns crimes que se comete e que levam inclusive a corrupção.

Abaixo alguns deles:

  • Sonegação de Impostos: dados dão conta de grandes fortunas como infratores;
  • Falsificar carteirinha de estudante, de sócio do clube, de programas sociais e outros;
  • Compra de CNH, muito praticado no País. A policia já investigou a existência de uma máfia;
  • Desrespeitando direitos dos idosos, mulheres, deficientes e outros;
  • Pagando um cafezinho, muito comum em multas de trânsito. Aí envolve tanto o motorista como o agente de trânsito;
  • Não usar máscaras em tempos de coronavírus;
  • Organizar e participar de aglomerações na pandemia;
  • Se negar a tomar a vacina para se imunizar do Covid;

Há muitas outras “infrações” que, não sendo coibidas, podem se tornar um tormento na vida em sociedade. É preciso não normalizar estes crimes, não achar “que todo mundo faz, por que eu não faço?”.

Esta normalização pode levar a práticas como racismo, homofobia, xenofobia e ódio aos pobres, como regra geral. Hora de debater a vida como ela é e que queremos.

João Geraldo Lopes Gonçalves é escritor e consultor político e cultural

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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