por Fernando Bryan Frizzarin
Era 1912, ou seja, 112 atrás, o mundo se preparava para enfrentar o que muitos viam como uma grande ameaça: fotografias falsas. Isso mesmo! Nem a câmera fotográfica era tão popular na época, quem dera inteligência artificial, nem em filmes de ficção científica existia ainda.
Deu no New York Times e no The Washington Post, entre muitos outros espalhados pelos Estados Unidos.
Imagine o espanto, expressões de horror e sentimento de fim do mundo ao desvendarem ao verem a notícia de que uma imagem do presidente William Taft, em pose simpática ao lado de um turista em Washington D.C., não passava de uma farsa bem orquestrada. Era uma montagem que podia ser comprada.
A indignação foi tamanha que chegou ao Senado dos Estados Unidos. Naquela época, os retocadores de fotos, como eram conhecidas as pessoas que possuíam a técnica artesanal que qualquer inteligência artificial de hoje faz “com os pés nas costas”, com suas técnicas de manipulação analógica, despertavam o temor de que a verdade, antes a prova inconteste garantida pela fotografia, pudesse ser corrompida pela criatividade humana.
Até um projeto de lei foi até elaborado para proibir a criação e distribuição de fotografias fraudulentas sem permissão! Adivinhe: com multas e penas de prisão para os transgressores.
Embora o Senado estadunidense não tenha aprovado a lei, o medo estava plantado: a fotografia, antes vista como testemunha fiel da realidade, agora passou a mentir.
Quanta ironia lendo isso hoje, em 2024.
Hoje, nosso medo parece muito maior e mais sofisticado, mas ainda é o mesmo de 1912 – 112 anos já se passaram, reforço.
As preocupações que um dia giravam em torno de uma imagem retocada de um presidente do então longínquo Estados Unidos da América, no qual não se chegava de avião naquele ano, porque não existiam ainda, agora são substituídas por fakenews, deepfakes e a tão temida Inteligência Artificial (IA). Nada mudou, na verdade a boa e velha inteligência natural humana.
Note bem, analise profundamente, a essência do medo é a mesma: a desconfiança de que a realidade está sempre a um passo de ser alterada e tudo aquilo em que acreditamos, ou melhor, tudo aquilo que as outras pessoas acreditam pode ser uma fraude. Em 1912, as ferramentas eram analógicas, demoradas e, de certo modo, artesanais. Qual a diferença hoje?
O que assusta é o disco riscado, não conseguimos virar a página, os problemas são reciclados e reciclados. Muito mais do que o plástico ou o alumínio. Em 1912, a preocupação era sobre o uso comercial ou político das imagens. Hoje, a mesma coisa!
A IA aprimora hoje o que já existe desde os primórdios do tempo, que é a criatividade, tanto para o bem quanto para qualquer outra coisa. A mesma aliada para o escritor quanto para o criminoso.
Mesmo que as ferramentas tenham mudado, nossos receios como sociedade continuam os mesmos. Temos um pavor ancestral de perder o controle da verdade, seja ela qual for, de que as imagens que vemos e as palavras que ouvimos sejam distorcidas ao ponto de que já não sabemos mais no que acreditar. O mesmo pavor que levou o governo dos EUA de 1912 a tentar intervir contra fotos fraudulentas, hoje ecoa nas legislações que tentam, de maneira ainda incipiente, regular o uso da IA e combater a disseminação de desinformação.
Talvez o que realmente assusta não seja a tecnologia em si, mas o que ela revela sobre nós. Em 1912, como em 2024, o que está em jogo não é apenas a manipulação da imagem, mas o poder de controle sobre a verdade.
Afinal, seja em 1912 ou em 2024, a realidade pode ser facilmente moldada por quem souber o que retocar.
Você pode consultar a fonte em https://newsletter.pessimistsarchive.org/p/the-1912-war-on-fake-photos e ver com seus próprios olhos.
Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.
Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar
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