por Marco Antonio F. Milani Filho
As guerras comerciais sempre foram utilizadas como instrumentos de pressão política e estratégias de domínio econômico. Recentemente, os Estados Unidos intensificaram a aplicação de tarifas sobre produtos importados do México, Canadá e China como forma de coagir esses países a tomar medidas mais efetivas contra o tráfico de drogas e o fluxo de imigrantes. Embora essas sanções possam inicialmente parecer benéficas para a economia interna americana ao impulsionar a produção local, as consequências a longo prazo tendem a ser significativamente mais danosas do que
vantajosas.
A imposição de tarifas comerciais eleva o custo das importações, impactando diretamente os consumidores e as empresas dos Estados Unidos. Com um aumento nos preços de insumos e bens finais, a inflação se torna um problema central, corroendo o poder de compra da população e reduzindo a competitividade da indústria americana.
Ademais, os países afetados frequentemente adotam medidas retaliatórias, criando um ciclo vicioso de barreiras comerciais que impacta negativamente setores fundamentais como o agrícola e o automotivo, que dependem amplamente da exportação.
No caso do México e do Canadá, parceiros históricos dos Estados Unidos, tais medidas comprometem cadeias produtivas integradas, prejudicando empresas que operam nos três países. Setores como o tecnológico e de eletrônicos, altamente
dependentes da importação de componentes, enfrentarão aumento de custos, tornando suas mercadorias menos competitivas no mercado global. Além disso, a incerteza econômica gerada pela imposição de tarifas desencoraja investimentos, reduzindo o crescimento econômico e a geração de empregos.
O impacto sobre a China, por sua vez, se insere dentro de uma disputa mais ampla por hegemonia econômica. O aumento das tarifas sobre produtos chineses não apenas encarece bens de consumo nos Estados Unidos, mas também incentiva a China a buscar novos mercados e consolidar sua posição como líder econômico na Ásia e na África. A longo prazo, essa política protecionista pode resultar na fragmentação da economia global, com blocos comerciais se fortalecendo independentemente dos Estados Unidos, diminuindo sua influência internacional.
Por fim, a eficácia de tais medidas na redução do tráfico de drogas e no controle da imigração é questionável. A economia mexicana, fortemente dependente do comércio com os Estados Unidos, pode ser afetada negativamente, intensificando problemas sociais e aumentando os incentivos à imigração irregular. Da mesma forma, a penalização da economia canadense em uma disputa com pouca relação com suas políticas internas sugere que tais medidas são menos sobre segurança e mais sobre estratégias geopolíticas e eleitorais.
Diante desse cenário, a questão que se impõe é: a quem realmente interessa uma guerra comercial? Se, por um lado, ela pode gerar ganhos políticos de curto prazo para lideranças que buscam reforçar discursos protecionistas, por outro, os prejuízos econômicos e diplomáticos são significativos. A história demonstra que a abertura comercial e a cooperação internacional tendem a ser mais eficazes para resolver problemas estruturais do que medidas unilaterais baseadas em sanções e retaliações.
Marco Antonio F. Milani Filho é economista. Pós-Doutor pela Universidade de Salamanca (Espanha). Professor da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
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