2024: ano de eleições no mundo e no Brasil: o que está em jogo?

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Contexto e cenário

O mundo globalizado vai às urnas neste ano de 2024. A eclosão de duas guerras, a da Ucrânia e de Israel, com o componente de chacina aos Palestinos na segunda, o avanço da extrema direita e sua linha fascista populista, deixam analistas políticos com a missão de desvendar o futuro da democracia no mundo.

A hegemonia de dois blocos econômicos, bélicos e político, foram dominantes até 1989 com a Guerra Fria. Após os eventos da queda do muro de Berlim, nenhuma nação ou bloco se destacaram no domínio.

O fim da União Soviética fez surgir um estado russo, dominado por máfias, que exploram o espólio de riqueza e de influência do antigo império. O mesmo vai acontecer nos países do Leste Europeu, entre gangues e o surgimento ou ressurgimento de uma extrema direita organizada e com apoio popular (vide a Hungria).

Já o bloco capitalista, terminada a euforia com a frase “O Capitalismo venceu” dita por Fukuiama em 1990, entrou naquela década e até agora não saiu, tentando solucionar suas crises econômicas e perdendo espaço como imperialista, abrindo possibilidades, para a China, África do Sul, Índia, Rússia e a América Latina, em especial Brasil e México.

Ao chegarmos nesta terceira década do século XXI, estamos com o dilema ou dois deles.

O primeiro, sobre hegemonia. Teremos nações na liderança mundial? Serão blocos econômicos ou ideológicos? A democracia vingará e sobreviverá em um novo contexto? A dúvida se estabelece e, a cada mudança no xadrez chamado geopolítica, elas crescem.

Em 2024, 58 países do planeta realizam eleições. A maioria para presidente, primeiro-ministro e o Parlamento. Somente o Brasil realiza o pleito para prefeitos e vereadores.

O G7, o grupo dos países mais poderosos do mundo, já teve pleito na Inglaterra, na França, Rússia e em novembro é a vez dos Estados Unidos. No G20, grupo que reúne os Países em desenvolvimento como o Brasil, Índia e a África do Sul já realizaram eleições, Brasil em outubro, bem como o México já realizou a sua.

Na América do Sul, destaques além da nossa: Uruguai e Venezuela. Bem, este breve quadro demonstra que as dúvidas colocadas acima criam uma grande expectativa do que pode surgir destes pleitos.

É importante ressaltar que, em todos os pleitos, o voto é popular, o povo foi e irá às urnas. Mesmo questionando lisura nos processos, o sufrágio universal princípio das democracias prevalece.

A França derrota o obscurantismo; a Inglaterra volta ao Euro

Três processos eleitorais no primeiro semestre deste ano mobilizaram o mundo. Deles, a tendência de uma sociedade democrática e com liberdades se colocou em ameaça. A polarização política que acompanha o século se colocou hegemônica. O medo de um lado aterrorizou democratas e libertos.

A euforia populista e repressora ativou cérebros presos em armários, que livres pregam a sociedade de uma elite. A eleição para o Parlamento Europeu trouxe um termômetro do espectro de correntes ideológicas no velho continente.

O fórum que unifica em torno do Euro e de uma política comum, ao final dos resultados, acendeu o sinal amarelo de alerta. O avanço da extrema-direita e populista em países com a Hungria, Itália, Suécia, Eslováquia e outras, foi evidenciado nas urnas do Parlamento.

Este resultado tirou de blocos democratas e sociais democratas a maioria absoluta para presidir sem negociar a instituição. Liberais e verdes também evoluíram e, com isto, foi possível manter na linha democrata a presidência. Na sequência, o Reino Unido vai às urnas para as eleições do Parlamento.

Na pauta, a continuidade do Brexit, sistema que fechou fronteiras para imigração e acusou a saída da Inglaterra da Comunidade Europeia. Desde 2005, os conservadores se mantinham no poder. Agora, o Partido Trabalhista retorna ao comando, com a expectativa do fim do Brexit. Já na França, a desesperança parecia que ia vencer.

Os franceses vivem neste século, o avanço rápido do conservadorismo com tinturas claras e objetivas de fascistas. Em uma prévia no início do ano, a extrema-direita de Le Pen liderou, e se mantivesse esta tendência, venceria as eleições parlamentares e indicaria o primeiro-ministro.

O primeiro turno veio e a tendência se confirmou: vitória dos fascistas. Precisou uma mobilização mundial, com engajamento de personalidades de várias áreas, pedindo para que o berço das democracias modernas não sucumbisse às trevas. A estratégia deu certo. Socialistas de esquerda vencem no segundo turno, tendo a social-democracia e a direita democrática em segundo, e a extrema direita em terceiro.

Foi um susto. Porém, estes processos eleitorais demonstram que a polarização, por enquanto, mantém uma disputa de dois blocos.

Estados Unidos: a hora da verdade?

A notícia de o presidente americano Joe Biden desistiu de disputar a reeleição em novembro movimentou o cenário mundial. Até então, a presença no pleito do mandatário atual da Casa Branca apresentava uma expectativa de derrota acachapante para Donald Trump.

Desde o primeiro debate, em que Biden foi mal, uma concentração grande de democratas e outros se manifestaram por sua renúncia. O estopim da bomba foi o ex-presidente Barack Obama declarar que o presidente deveria deixar o pleito.

As eleições americanas são, sem dúvida, uma das mais importantes neste momento. A geopolítica e assuntos como economia, migração e outros podem mudar ou acelerar tendências atuais.

Trump significa a anarquia na economia e pulso retrógrado em pautas de costumes. Significa um alinhamento à extrema-direita e às máfias espalhadas no mundo. Por outro lado, os democratas botam lenha na fogueira em guerras e conflitos que não são seus e liberam a economia impondo sua hegemonia ainda como o maior credor do mundo.

Agora, o Partido Democrata, também até o final de agosto, deve apresentar o sucessor de Joe Biden nas eleições. A vice Kamala Harris é a favorita do presidente. Mas governadores e Michele Obama, ex-primeira-dama, estão no páreo.

O G20 e a América do Sul

O primeiro país a realizar eleições deste bloco foi a Rússia. Putin foi reeleito com um pouco mais de 75% de votos. Grupos oposicionistas ao premiê russo e instituições observadoras do processo acusam o governo de fraudar o pleito.

A vitória de Vladimir Putin mantém a guerra na Ucrânia, se distancia da Comunidade Europeia e os americanos. Mas encontra respaldo na China e em alguns países da Ásia e da América Latina, mesmo com críticas a políticas autoritárias, como o Brasil faz.

Na Índia, um dos países em ascensão econômica, as eleições gerais, que lá duram seis semanas e têm sete fases, consolidaram a vitória do atual governo. A política, cada vez mais populista e ligada à religião, cativa um país continental, com suas tradições complexas que a humanidade tem dificuldades para compreender.

No entanto, o desenvolvimento industrial e competitivo tem tirado o sono da Europa e dos Estados Unidos. Não há duvida que os indianos disputam a hegemonia asiática com o Japão e a China.

Este quadro pode apresentar outra configuração. Desde o fim do Apartheid que o Congresso Nacional Africano não perdia as eleições no Parlamento. O partido que teve em Nelson Mandela sua figura mítica e histórica perdeu maioria dos assentos.

Esta realidade impõe ao Congresso negociar com a oposição, nacionalista e de direita, a manutenção do atual presidente. Esta derrota também pode mexer na geopolítica. Porém, a derrota do ANC, sigla em inglês, teve três conotações: desemprego galopante, desigualdades sociais e escassez de energia. Fica claro que a população sul africana quer distribuição de renda e justiça social.

Na América Latina, duas eleições de cara chamaram a atenção. A primeira já realizada no México termina com a vitória da sucessora do presidente Lopez Obrador. Com um pouco mais de 57% dos votos, Claudia Sheinbaum derrotou a oposição em uma das mais sangrentas eleições que aquele país já viu.

Assassinatos de políticos e personalidades por grupos de narcotráficos e a migração descontrolada para os Estados Unidos pautaram o processo. No entanto, a manutenção da esquerda no poder pode buscar soluções a estes problemas.

A menos de sete dias para as eleições presidenciais, o atual mandatário da Venezuela Nicolas Maduro fez uma declaração perigosa. Afirmou que, se a oposição ganhar o pleito, haverá o banho de sangue. As eleições venezuelanas sempre são questionadas quanto sua lisura.

Além disto, em resposta à manifestação do presidente Lula e outros, Maduro acusou as eleições no Brasil não auditáveis, sem apresentar provas. Desta vez, uma briga de institutos de pesquisa deixa os possíveis resultados à deriva. Parte deles afirma ampla vitória da Oposição. A outra parte conclama Maduro para mais um mandato.

A verdade que o debate na Venezuela passa por sua capacidade petrolífera e, com ela, se colocar no mundo, e a democracia, longe dos dois grupos majoritários. As eleições ocorrem neste domingo dia 28. Para a definição de blocos mais à esquerda, a vitória de Nicolas Maduro é esperada.

E o Brasil

Todo este quadro acima interessa ao Brasil na condição de relações internacionais e apoio as nossas políticas. Para o mundo, o pleito que elegerá mais de cinco mil prefeitos e milhares de vereadores pode significar algumas questões.

A primeira delas, a polarização esquerda e extrema direita e a postura da chamada direita democrática. Transformar o debate em pautas nacionais parece ser a tendência de lulistas e bolsonaristas. Mas para o cidadão comum, o importante é saber se haverá mais médicos, remédios, casa própria, transporte coletivo, vaga em creche e por aí em diante.

Uma recente pesquisa aponta que a possibilidade de atuais prefeitos serem reeleitos se compara com 2016. Naquele ano, tivemos 18% deles reeleitos nas capitais e grandes cidades. Ao contrário de 2020, metade deste índice continuou seu trabalho.

O motivo de possível aumento da reeleição para mais de 20% é a distribuição de recursos pelo Governo Lula e as emendas parlamentares.

A farra chantagista do Centrão e as políticas públicas de Lula contribuíram para movimentar os municípios de obras e programas dos mais diversos. Talvez este motivo possa ofuscar a polarização. Ainda temos que testar o humor do eleitor.

Mas para a geopolítica, os resultados de outubro podem apontar para 2026 no pleito presidencial e a colocação brasileira no mundo.

Logo que as convenções partidárias terminarem, volto a falar do tema Eleições Municipais, abordando também minha cidade Limeira.

Bom final de semana a todos e a todos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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